sábado, 1 de dezembro de 2007

A demissão

A demissão, certamente, é um tema que ronda as cabecinhas de todos os funcionários de banco.
Os bancários de banco público, concursados que são, não pensam tanto a respeito, exceção feita àqueles em que, na hora em que todos são criados, Deus não carimbou a sua bundinha com a designação "serás bancário" (com cargo, número de matrícula e CPF) e que, por natureza, não aceitam a natureza opressiva e burrocrática desse servicinho tão pouco escorreito e, milagre, guardam interesse em outras coisas que não carimbos, taxas, formulários e procedimentos.

São esses, os protótipos de funcionário público - pois aliam o lado comercial, dinâmico e capitalista do banco à tartaruguice daquele que jamais será mandado embora, salvo alguma cagada excepcional. Eis eles, que carregam menos a opressão da demissão iminente (salvo tempos de FHC), mas os que também, em grande parcela, encaram a profissão como algo temporário para, após algum tempo (anos, décadas?), trabalharem na sua tão sonhada profissão, seja lá qual for.

Já vi bancário de tudo quanto é tipo. Tem o gerente que na verdade é dentista: está juntando alguns milhares para montar o consultório, depois de gastar alguns milhares pagando a faculdade. Tem aquela garota que estuda psicologia, dá aula em ONG's como voluntária nos sábados e é metida a hipponga. Bem que ela gostaria de usar sandálias e camiseta do Projeto Tamar, mas durante a semana se vê obrigada a se enfiar num taillerzinho preto e usar sapato de salto alto. As unhas, impecáveis, e o vocabulário, sem qualquer traço de gíria ou linguagem informal. É só obrigado, senhora, volte sempre etc.

Existe aquele também que sente ojeriza a procedimentos cuja razão de ser mora na obscuridade, que odeia linguajar falsamente polido e sorrisos de gentileza mais amarelos que o sol, que odeia tentar convencer clientes o quão maravilhoso é aplicar seu dinheiro em títulos de capitalização. É bem aquele sujeito que sonha em um dia se tornar escritor, entrevistar pessoas interessantes, sobre assuntos verdadeiramente interessantes, viajar a lugares, adivinha, interessantes, e que pretende ainda ler muitos livros sobre assuntos, bah, interessantes, assim ampliando o vocabulário e melhorando o estilo (principalmente no que se refere a adjetivos).

Para isso, estuda jornalismo à noite, e um dia pretende trocar o caos e o estresse da vida bancária pelo lugar calmo e pacato que é a redação de um jornal diário.
Disse-me que, nas horas vagas, escreve um blog sobre a vida do bancário, deve ser bom, vai lá saber.
O complicado é trocar o salário medíocre do bancário pelo salário mixuruca do estagiário em jornalismo. Por mais desapegado ao dinheiro e ao poder que se possa ser, dá tristeza e melancolia profunda em imaginar o salário de "x" reais se transformar num salário de "x/2" reais todo mês. Dá calafrios e tristeza de afundar os olhos pensar que você vai se tornar aquilo que tanto te atrapalha no seu trabalho e que você pode mandar nele sempre que precisa, que é o estagiário.

Enquanto a decisão inevitável não vem, eu tento fazer aquela coisa que muitos já tentaram fazer (viu, o aspirante a jornalista sou eu, há há). Tento separar a vida pessoal, o próprio pensamento em si, do "ser bancário". Tanta gente faz isso. É fácil.
É demitir-se psicologicamente: se fuder durante 6 horas, todo dia, e depois, aquela coisa, "trabalho no banco, eu? quem me dera".
Odeio tudo isso (nem tanto, vai), e, depois da demissão da minha alma do banco, a alma flutua muito mais leve.

15 comentários:

Anônimo disse...

Vc escreve muuito bem, vai fundo! Depois que virei bancário s( Após completar 1 ano no banco) comprei o livro: Como encontrar o emprego dos seus sonhos! rs pois é comecei a querer mudar de em,prego maasss o salário ainda me prende...percebi que eu realmente gosto de publicidade e propaganda... mas precisei virar bancária para descobrir... agora voltar virar rs

Anônimo disse...

Parabéns pelo artigo!É tudo o que realmente eu penso!Eu realmente detesto ir todo o santo dia trabalhar em banco.Fiz o mesmo que vc,meu corpo vai para a agência mais minha alma não!Meu gerente já percebeu isto e não vai demorar muito para eu me mandar dessa merda!

Anônimo disse...

bancario é se fuder durante 8 horas. Clientes reclamando, procedimentos que desestimulam a gente, normativos que sempre precisam de outros normativos etc. aff..Um dia ainda irei ser feliz com isso..Um dia.

Anônimo disse...

Ser bancario é ser satanista...

Anônimo disse...

Você disse tudo! ser bancário se resume em sobre pressao psicologica o tempo todo, de todas as partes... é de chefe, é do chefe do cheque, é do cliente... e o mundo hostil bancario se resume em META! e atingi-la nao é algo que nos faç a vibrar de alegria, porque no mês seguinte certamente eça aumentara, porque por algum motivo o Joao la da agencia X nao ta com um resultado bom..ai a Maria que ta batendo recebe o presente adicional que é uma porcetagem da meta do joao! resumindo: se nao bate voce se ferra e bate? a meu amigo..ai piora muito mais!! O mágico é que conseguimos ter dois picos de oscilações de sentimentos em apenas 24hs, que é a alegria de bater a meta no ultimo dia do mês e a tristeza na manhã seguinte de zerar tudo e chegar a meta nova!! Ahhh e se aquele seu cliente vai la e RESGATA um investimento?? ai meu amigo é sentar e chorar !! por isso sempre digo aos meus colegas gerentes: Nao fiquem alegres com a aplicacao feita hoje, porque muita tristeza ela ha de te trazer amanha!! hahahaha

E os dias vao passando...e voce vai se tornando um ser extremamente estressado, briga até com o cachorro da vizinha que resolve latir porque esta vivo!!! um bom dia de um cliente é como se fosse um: voce conseguir ver aquele estorno pra mim??? Voce quer moooooooorrer quando ouve a palavra ESTORNO, TARIFA DE CONTA E TAXA REDUZIDA!!


Olha como meu desabafo foi grande rsrs... e tenho certeza que muitos bancarios - gerentes - vão se identificar!!

AHhh ai vem um e pergunta: Mas porque voce nao procura outro emprego??

Ai nos respondemos em pensamento: Porque pra ganhar o que eu ganho aqui..ah em outro lugar seria dificil!!!

Oh céuss!! é como se fosse um casamento: quem ta fora quer entrar e quem ta dentro quer sair!!!!

Abraços!

Anônimo disse...

Passei em um concurso melhor e pedi demissão do BB.
Foi a melhor coisa que fiz. Ninguém merece!

Anônimo disse...

Meu Deus do Céu, amanha é segunda e to enrolado com um processo. O vida de bancário que desgasta, não temos nem alegria de passar um FDS sem pensar no trabalho da próxima semana. Se Deus quiser irei passar em outro concurso ou então conseguir um outro emprego que pague o mesmo salário ou não. Quero um trabalho que me faça transpirar, suar e chegar em casa cansado fisicamente mas anestesiado de alegria por saber que poderei dormir tranquilo. Glória a Deus que ele me ouvirá e a vcs também. Amem.
ASS: bancariomeiaboca

Anônimo disse...

Parabéns pelo artigo!
Estou me sentindo exatamente assim. Percebi que não gostava de ser bancária no primeiro mês, e lá se vão quase cinco longos anos.
Admito que o tema "demissão" tem feito cada vez mais parte de meus pensamento. Demissão do corpo, pois alma já não vai mais comigo pra agência à muito tempo. Infelizmente parece que não estou sozinha!

Anônimo disse...

Ser bancário é ser o Robin Hood as avessas: Tirar dos pobres para dar para os ricos. E ter que ser desonesta todos os dias, eu não quero mais ser assim minha consciência pesa, estou procurando outro emprego desesperadamente, mesmo que não pague tão bem... Quero ter minha consciência tranquila...

Anônimo disse...

"Robin hood as avessas" kkk realmente ser bancário num é das tarefas mais fáceis, hoje com 1 ano e 10 meses de banco ainda me animo em seguir carreira, mas às vezes vem algum balde de água fria como aquele gerente que quer meta batida, aliado àquele cliente que não quer ceder, apenas quer que você resolva a vida dele, e depois que você resolve: vai oferecer um título de capitalização pra ele... mas essa é a vida eu tento compensar o descontentamento da profissão com o fato de não ter um dos piores salários do mercado, e que tudo hoje realmente tá dificil seja em qualquer área.

Juliano Braga Bueno disse...

Cara trabalhar em banco é a coisa mais escrota do mundo, é melhor do que morrer de fome, mas vc fica ali naquela vida de merda e o tempo vai passando, pra mim já deu tres anos, todo mundo acha que ser bancário é bom, todo dia quero mandar os clientes irem tomar no cu e dar um direto no queixo do gerente. é um lixo total. a vida é curta cara estou caindo fora caia fora tbm melhor ser hippie do que trabalhar no banco do brasil

Anônimo disse...

Me sinto um pouco mais confortada em saber que existem outros bancários que pensam como eu, porque a maioria dos meus colegas acham "normal" ser corrupto. Sim!! Todos nós que trabalhamos em um banco somos corruptos porque pra assegurar a porcaria do nosso salário no final do mês, nós mentimos, omitimos e enfiamos "goela abaixo" um monte de produtos que endividam mais e mais as pessoas. Eu detesto fazer isso, me sinto um lixo! Mas não consigo achar uma solução à curto prazo...vou me esforçar, eu preciso passar em outro concurso.Banco é só incomodação, é chefe, é cliente, é colega mau-caráter, cobrança de tudo que é lado...E o meu marido ainda acha que eu reclamo de barriga cheia, que o salário é bom rsrsrs. Só quem é bancário (e boa pessoa) entende tudo isso!

Anônimo disse...

Ser bancário é a pior coisa do mundo. Vc não tem o direito de errar. Senão o rating fica desconforme. Tem que vender. Tem que produzir. Tem que dar lucro. Trabalho há 23 anos nisso. Não aguento mais. Peço a Deus todo dia pra me tirar desse tormento. O banco roubou meus melhores dias.

Anônimo disse...

Estou há nove anos nisso. Adoeci fisicamente e mentalmente por conta da profissão. Estou licenciada por conta de uma cirurgia de síndrome do túnel do carpo e de tenossinovite. Só de pensar em voltar para aquele ambiente me dá vontade de chorar. Peço a Deus que me livre dessa profissão para que eu possa viver tranquilamente e voltar a dormir sem uso de medicamentos.

Anônimo disse...

Eu pedi demissão depois de 10 anos de trabalho, confesso que até sinto saudades do ambiente, de alguns colegas, mas quando lembro o tanto de merda que tive que aturar de superiores que não possuíam nem capacidade para amarrar o cadarço de um sapato e clientes que acham que você é o dono do banco a saudade passa bem rapido